"Temperamento artístico é uma doença que ataca os amadores"

quinta-feira, dezembro 28, 2006

Sangue e ferro?

Foi com a pele pálida como uma pérola baça, com uns olhos amargamente humedecidos e com uma expressão de prepelxidade que recebi a trágica notícia.
Através de uma voz sibilante e de aparente mecanização, transmitiram-me que o meu sorriso iria ser encarcerado por de trás de uma prisão metálica, sendo a sua sentença de dois intermináveis anos.
Era como se uma mão invisível me remexe-se nas entranhas.
Com o coração, ameaçando cavalgar me pela garganta acima, apercebi-me que a minha vida social tinha os seus dias contados. O familiar estalido que me tinha vindo a habituar ao longo dos últimos anos dentro da minha boca, tomou proporções colossais, chegando a por em causa a minha integridade em anos vindouros, sobre a forma de surdez, e diversas mazelas corporais, segundo me foi dito.
Embora a cruel contagem decrescente ainda esteja longe do seu fim, já começo com as habituais insónias, os calafrios que começam na nuca e percorrem velozmente a espinha, e os típicos pensamentos saudosistas, próprios de quem se apercebe que vai ser privado de algo que sempre tomou como certo.
Foi ironicamente, numa época em que se respira felicidade e alegria, e o espírito do “dar e receber” é rei e senhor, que eu recebi este fatídico presente do destino.
Pois bem, se dizem que não vale a pena chorar sobre o leite derramado, não me resta então mais nada a não ser uma ténue esperança, que a jovem dentista, se tenha enganado no seu sinistro prognostico, e que tudo isto seja o resultado de uma mente sádica, que tentou condimentar um longo dia passado num consultório monótono e enfadonho.
Caso se venha a confirmar, toda a riqueza do paladar vai se cingir a um sabor metálico, fazendo com que as variadas explosões de sabor, que o comum mortal encara como um direito e não uma bênção, não passem de vagas recordações.
A natureza é cruel.
O ser humano precisa de perder as coisas para lhe realmente dar valor. O que seríamos nós sem a visão, o olfacto, o tacto, o som…e o doce paladar, que já recordo com saudosismo?
A vida é irónica, e por vezes com uma pitada de crueldade.
Enfim após vinte primaveras, vou sentir na minha dentição, o frio sabor do metal, levando-me a invejar a generalidade da humanidade, que teve o privilégio de nascer com maxilares perfeitos.
Agora no conforto do meu lar, refeito do choque e com a noite como conselheira, sinto a tragédia a abater-se sobre mim, como se uma neblina me rodeasse, e o mundo se apresenta-se mais cinzento e sombrio. Sinto que o meu espírito desabadou como uma frágil castelo de cartas.
Á semelhança de um gato, tento lamber as minhas feridas, longe da diabólica clínica, procuro descortinar algo de positivo que teima em não aparecer.
Sem que ninguém compreenda a minha dor, visto que até agora as únicas reacções alcançadas foram de escárnio e de passividade, viro-me para este teclado, tentando sentir algum alívio, mas em vão.
A dramática contagem já começou, e tempo escapa-se entre os dedos, sendo uma questão de semanas até a minha boca se fundir com o aço.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Devaneios natalícios

De há uns tempos para cá o Natal a modos que me deprime. Não perguntem porquê, porque não vou, nem consigo explicar e também porque não me apetece, não quero! Mas vou soltar uns pensamentos que me povoam a cabeça e que de vez em quando conseguem mesmo aborrecer-me...
Que tem, afinal, de tão especial o Natal?! (leiam como se fossem brasileiros, é engraçado)
Será mesmo porque nasceu o menino Cristo neste dia?! Já reparam que para um rei (no fim de contas ele seria o rei dos judeus, o messias) tem um nome muito curto? Que é feito dos nomes do meio? E que raio de apelido! Em grego Cristo significa Ungido, imagine-se. Como seria se ele se chamasse Jesus Rafael Francisco Maria Bernardo Tomás Cristo, não seria muito mais credível? Ninguém se convence que alguém é rei só com dois nomes... ainda acham estranho os romanos e os restantes não acreditarem nas suas palavras. Bom, já estou a divagar demasiado... voltemos ao início!
Que tem, afinal, de tão especial o Natal?! Será mesmo porque nasceu o menino Cristo neste dia?! O Natal é ou não é quando o Homem quer? Então porque não assistimos a esta onda de bondade e generosidade durante o resto do ano? É só nas imediações deste fatídico dia que fica tudo maluquinho com os outros! Será que se não obedecermos a esta massificação da bondade e não alinharmos que nem cordeirinhos e ao invés, dermos um grito do Ipiranga e, resolutamente, insistirmos em chatices e em não desculpar o primo, somos fulminados na hora? Ou o menino Jesus ofende-se e amua?! Será?!?
No dia 25 de Dezembro, numa noite com um céu extremamente limpo, três aventureiros (provavelmente sobre o efeito de substâncias duvidosas, segundo eles foi um anjinho, pois sim...) decidiram seguir uma estrelinha e ver onde os levaria. Chegaram a uma manjedoura e viram o menino Jesusito nas palhas deitado, nas palhas estendido, juntamente com os pais e com uma série de animaizinhos (??). Ao chegarem, Baltazar, Gaspar e Belchior, os reis aventureiros, decidiram oferecer à família feliz (porque uma vozinha assim lhes ordenou) o que com eles traziam. Mais concretamente, ouro, incenso e mirra. Vai daí a modinha dos presentes, nesta data, pegou até aos dias de hoje!
Mas afinal para que é que o rebentozinho quereria estas coisas? O homem estava destinado a tornar-se um hippie errante, com umas pitadas de dandy pelo meio. Tivessem-lhe oferecido uma prancha de surf e mudava-se o curso da história. "Jesus de Nazaré, o primeiro surfista português a liderar o WCT!" Acabavam-se as Intifadas e demais ambientes beligerantes, e punha-nos, Portugal, nas bocas do mundo! Lá estou eu a divagar...
Bom, em relação aos presentinhos, se nossa cristandade tem recusado veemente a oferta, dizendo que nada seria mais aprazível do que apenas partilhar o conforto das suas palhinhas e dar guarida aos exaustos viajantes, hoje tudo seria diferente. Teríamos na mesma o feriado, já que continuaríamos a utilizar o calendário pelo qual nos regemos hoje em dia, junto da família, tudo muito bonito, em paz e tal... mas acabariam as correrias de última hora ao Buraca Shopping porque, inexplicavelmente, nos olvidamos da prendinha para a tia Augusta ou para o primo Abílio. Aí sim, faria todo o sentido o Natal ser quando o Homem quisesse, com prendas e jantares familiares cheios de amor e carinho quando nos desse na telha. "Maria, liga aos teus primos e tios e prepara-te que hoje é Natal!" E zás!, alegria e amor a rodos, para tudo e para todos, sem hipocrisias como "olha, vou dar uma esmolinha à Caritas porque Jesus diz que os pobrezinhos também merecem...". Visualizem bem a cena: ...no meio da rua, junto a um contentor do lixo, que apesar de verde, nada tem de natural, excepto o cheiro fétido de algo que se vem decompondo há vários dias, um homenzinho lança a quem quiser ouvir "Ah e tal, tou com fomeca, dê-me lá uma moedinha daquelas bicolores que têm números gravados..." e alguém vocifera violentamente " Vai trabalhar pá! Deves pensar que hoje é Natal não?!!" ao qual o pobrezinho responde "Epá, mas o Natal é quando um homem quiser e a mim dava-me jeito que fosse hoje.", "Ai é? Então sê lá bonzinho e generoso e partilha essas moedinhas comigo!".
Bem, à medida que vou escrevendo acho que me vou confundindo e, analisando a questão deste prisma, talvez não fosse muito boa ideia o Natal ser quando um homem quisesse... Agora que penso nisso, se todos os dias um homem diferente decidisse "Hum, sinto que hoje é um belo dia para ser Natal!" e qual Ramsés II ordenasse "Assim foi dito, assim será feito!", teríamos o espiríto natalício por toda a parte, o ano todo! Partilhas gerais e oferendas a todos aqueles que menos têm, porque a isso nos sentíamos impelidos. Tudo era de todos, ninguém se sobreporia a ninguém com mais posses, tudo equitativamente dividido. Parece-vos familiar? A palavra comunismo não faz clic nessas cabecinhas?! Se calhar sou só eu... mas já estou a ver o Jerónimo de Sousa e a Odete Santos, nas palhas estendidos, a esfregar as mãozinhas de contentamento.
É incrível o que o Natal me faz à cabeça. Uma pessoa começa a dissertar sobre Natal e respectivo espírito e acaba na m**** da política...
Vou ficar por aqui não vá alguém querer passar-me um atestado de insanidade mental ou acusar-me de heresia e fazer queixa às autoridades competentes, correndo o risco de encerramento deste espaço.
Fiquem atentos para futuros devaneios...

quarta-feira, dezembro 20, 2006

Lágrimas e pronuncia do norte

Para encerrar a temática dos Carapaus este ano, uma referência para a conferência de imprensa que se deu no final do treino.
Como é normal, o treinador Pelica foi o primeiro a falar, com uma invulgar irritação estampada o rosto, dizendo aos órgãos da comunicação social presentes na sala “São vocês que estão a destabilizar os meus jogares! Eles eram todos humildes e amigos uns dos outros! E vejam no que se tão a tornar...”. Nesta altura Pelica, olha para todos os presentes na sala tentando conter as lágrimas, e num tom paternal diz “Era o nosso sonho, não devia de acabar assim...”. Pelica notoriamente transtornado, e com os sentimentos a flor da pele, começa a derramar longas lágrimas, pedindo desculpa a todos os presentes. O jogador/dirigente Sininho, abraça o mister, tentando aliviar a dor, dizendo baixinho e num tom doce e meigo “já passou João, já passou...”. Na sala paira um ambiente de partir o coração, sendo possível ver que nenhum dos presentes na sala se encontra indiferente.
É nesta altura que Sininho pede “por favor, vamos encerrar esta parte da sessão de imprensa, uma vez que o treinador não se encontra em condições, muito obrigado pela compreensão”. Em seguida, João Pelica abandona a sala, visivelmente abatido, e segundos antes de sair pela porta dirige-se aos presentes, com uns olhos que espelham bem toda a sua tristeza, e com o seu lábio inferior a tremelicar, dizendo numa voz muito ténue e melancólica “...sniff...sniff…por...porquê?”.
Após um logo e pesado silencio, Sininho ainda visivelmente perturbado, indica que o jogador escolhido para falar foi o atleta Pega.
Quando confrontado pelos jornalistas relativamente ao momento menos bom que a equipa está a passar, o jogador respondeu com o entusiasmo e a vivacidade que lhe são características “Hoi hoi, isso são bocês a tentar destabilizar a nossa equipa carago! Hoje deve ter sido o treino que lebei mais porrada, fonhase! Como se diz em Aguada de cima, para bocês uns são filhos e outros são primos...hmmmm....”neste momento Sininho segreda qualquer coisa ao ouvido do jogador, perante uma audiência incrédula “pois pois, uns são filhos e outros são enteados, assim é que é carago!” dito isto exibiu um grande sorriso.
Nesta altura reina um silêncio, com a maior parte dos presentes a fazer um enorme esforço para conterem o riso. Subitamente um jornalista australiano presente na terceira fila rebenta numa sonora gargalhada, contagiando toda a sala. Pega, sem compreender a situação ainda replica uns “Hoi, hoi, vai-te afonso!” com a sua possante voz, mas é completamente abafado por inúmeras gargalhadas.
Numa sala que momentos antes deprimiria qualquer um, encontra-se transformada numa algazarra onde as inúmeras lágrimas que se exibem nos olhos dos jornalistas não são de tristeza como à momentos a trás, mas de alegria.
A sala encontra-se num pandemónio!!
Sininho ainda tenta controlar a multidão mas não o consegue, dizendo de seguida, em plenos pulmões na tentativa de alguém o ouvir as palavras “Encontra-se terminada a conferência, bom natal, boas entradas e até para o ano! VIVA OS CARAPAUS!”.

Carapaus corrompidos

Foi sobre um clima de grande tensão que decorreu mais um exigente treino de sexta-feira de manha. Depois das declarações por parte do treinador dos Carapaus, o clima de boa disposição e companheirismo que o plantel irradiava passou a ser uma vaga recordação, dando lugar ambiente de inveja e mesquinhez.
Só para se ter uma ideia do estado de espírito do “comandante da armada bióloga”, Pelica fez pela primeira vez na sua carreira, um treino à porta fechada, privando o grande aglomerado de adeptos que se juntaram á entrada do recinto de verem os seus ídolos mais de perto.
Devido ás declarações bombásticas do treinador, este treino, foi o mais participado de todos os tempos.
Desde o início do treino, percebeu que qualquer coisa não se encontrava bem: os incentivos deram lugar ao silêncio, a entreajuda foi substituída pelo individualismo, e nem mesmo a proximidade de uma época festiva impediu entradas mais duras por parte de alguns jogadores.
Com os regressos de Mendes, recuperado da operação, e Pega livre das intensas cãibras que foi alvo, só o lateral Oxyduras se encontra ainda entregue ao departamento médico, fazendo com que a luta pela titularidade esteja mais presente na cabeça dos jogadores que nunca.
Correm rumores inclusive, que certos jogadores, nomeadamente os extremos Pega e Sininho, já ofereceram jantares e mulheres ao treinador, com o intuito de terem o seu lugar ao sol na equipa inicial.
Infelizmente estas atitudes não são as únicas: Temos o caso do portentoso central Templária, que enganou o jovem Mamassara (o seu próprio afilhado!!) indicando lhe que o treino iria ter lugar num descampado a 57km de Faro, com o objectivo de evitar a sua concorrência; uma atitude igualmente deplorável, chega-nos do outro pilar da defesa, Laurodérimo, que trancou o seu colega de casa Psidónio no quarto, não o deixando ir ao treino; do lateral Oxyduras e do centro campista Super-maxi que andaram a distribuir bebidas com efeitos secundários a alguns atletas; e o que dizer da vergonhosa atitude de Chewbacca, que subornou um médico para dizer que tem um problema de joelho, fazendo-se de mártir aos olhos dos outros jogadores mostrando o seu “espírito de sacrifício”?
Para finalizar, uma nota para o aparecimento de um novo guarda-redes, de seu nome Kalu (mais um diamante a lapidar?), que espreita a sua contratação a custo zero na reabertura do mercado de inverno, e do novo visual o guardião Lenga, que se apresentou no treino com uns óculos de sol, imposição feita pela marca de óculos Arnette, devido ao contrato que o jogador fez com conhecida marca.
E é assim que os Carapaus de Corrida vão para ferias, completamente corrompidos pela fama e sequiosos de protagonismo, fazendo com que a imagem de família que tão bem descrevia esta equipa pareça uma historia passada de geração em geração, onde ninguém sabe bem distinguir a parte verídica da utopia.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

CHOQUE! Carapaus dão à costa devido a stress...

É justamente antes das férias do natal, altura que todos os jogadores anseiam depois de meses privados do conforto familiar, que o treinador da equipa líder da tabela, os Carapaus de Corrida, mister Pelica resolve largar uma bomba no seio da equipa.
De agora em diante, as presenças nos treinos vão influenciar as convocatórias para os jogos vindouros! Numa equipa habituada a um clima de vedetismo, isto cai que nem caca de pombo em cima de nós no dia em que nos vestimos todos janotas para algo importante, ou seja, muito mal!
Indaga-se sobre possíveis intrigas no balneário, visto que jogadores mais trabalhadores mas menos dotados tecnicamente, que têm sido relegados para segundo plano, exigem um lugar no onze titular, em detrimento das habituais coqueluches marinhas, que vêm assim ameaçado o seu, outrora garantido, lugar no firmamento.
Ainda não houve comentários dos jogadores, nem da direcção, em relação a este embróglio desconcertante. No entanto, no treino desta manhã, feito à porta fechada, foi notória uma maior afluência de veículos nas imediações do estádio, o que pode revelar que certos jogadores sentiram os seus calos pisados.
Esperam-se novas revelações acerca deste treino, não só através da conferência de imprensa marcada para esta tarde, mas também porque aguardamos com expectativa a crónica do nosso repórter infiltrado no treino.