Devaneios natalícios
De há uns tempos para cá o Natal a modos que me deprime. Não perguntem porquê, porque não vou, nem consigo explicar e também porque não me apetece, não quero! Mas vou soltar uns pensamentos que me povoam a cabeça e que de vez em quando conseguem mesmo aborrecer-me...
Que tem, afinal, de tão especial o Natal?! (leiam como se fossem brasileiros, é engraçado)
Será mesmo porque nasceu o menino Cristo neste dia?! Já reparam que para um rei (no fim de contas ele seria o rei dos judeus, o messias) tem um nome muito curto? Que é feito dos nomes do meio? E que raio de apelido! Em grego Cristo significa Ungido, imagine-se. Como seria se ele se chamasse Jesus Rafael Francisco Maria Bernardo Tomás Cristo, não seria muito mais credível? Ninguém se convence que alguém é rei só com dois nomes... ainda acham estranho os romanos e os restantes não acreditarem nas suas palavras. Bom, já estou a divagar demasiado... voltemos ao início!
Que tem, afinal, de tão especial o Natal?! Será mesmo porque nasceu o menino Cristo neste dia?! O Natal é ou não é quando o Homem quer? Então porque não assistimos a esta onda de bondade e generosidade durante o resto do ano? É só nas imediações deste fatídico dia que fica tudo maluquinho com os outros! Será que se não obedecermos a esta massificação da bondade e não alinharmos que nem cordeirinhos e ao invés, dermos um grito do Ipiranga e, resolutamente, insistirmos em chatices e em não desculpar o primo, somos fulminados na hora? Ou o menino Jesus ofende-se e amua?! Será?!?
No dia 25 de Dezembro, numa noite com um céu extremamente limpo, três aventureiros (provavelmente sobre o efeito de substâncias duvidosas, segundo eles foi um anjinho, pois sim...) decidiram seguir uma estrelinha e ver onde os levaria. Chegaram a uma manjedoura e viram o menino Jesusito nas palhas deitado, nas palhas estendido, juntamente com os pais e com uma série de animaizinhos (??). Ao chegarem, Baltazar, Gaspar e Belchior, os reis aventureiros, decidiram oferecer à família feliz (porque uma vozinha assim lhes ordenou) o que com eles traziam. Mais concretamente, ouro, incenso e mirra. Vai daí a modinha dos presentes, nesta data, pegou até aos dias de hoje!
Mas afinal para que é que o rebentozinho quereria estas coisas? O homem estava destinado a tornar-se um hippie errante, com umas pitadas de dandy pelo meio. Tivessem-lhe oferecido uma prancha de surf e mudava-se o curso da história. "Jesus de Nazaré, o primeiro surfista português a liderar o WCT!" Acabavam-se as Intifadas e demais ambientes beligerantes, e punha-nos, Portugal, nas bocas do mundo! Lá estou eu a divagar...
Bom, em relação aos presentinhos, se nossa cristandade tem recusado veemente a oferta, dizendo que nada seria mais aprazível do que apenas partilhar o conforto das suas palhinhas e dar guarida aos exaustos viajantes, hoje tudo seria diferente. Teríamos na mesma o feriado, já que continuaríamos a utilizar o calendário pelo qual nos regemos hoje em dia, junto da família, tudo muito bonito, em paz e tal... mas acabariam as correrias de última hora ao Buraca Shopping porque, inexplicavelmente, nos olvidamos da prendinha para a tia Augusta ou para o primo Abílio. Aí sim, faria todo o sentido o Natal ser quando o Homem quisesse, com prendas e jantares familiares cheios de amor e carinho quando nos desse na telha. "Maria, liga aos teus primos e tios e prepara-te que hoje é Natal!" E zás!, alegria e amor a rodos, para tudo e para todos, sem hipocrisias como "olha, vou dar uma esmolinha à Caritas porque Jesus diz que os pobrezinhos também merecem...". Visualizem bem a cena: ...no meio da rua, junto a um contentor do lixo, que apesar de verde, nada tem de natural, excepto o cheiro fétido de algo que se vem decompondo há vários dias, um homenzinho lança a quem quiser ouvir "Ah e tal, tou com fomeca, dê-me lá uma moedinha daquelas bicolores que têm números gravados..." e alguém vocifera violentamente " Vai trabalhar pá! Deves pensar que hoje é Natal não?!!" ao qual o pobrezinho responde "Epá, mas o Natal é quando um homem quiser e a mim dava-me jeito que fosse hoje.", "Ai é? Então sê lá bonzinho e generoso e partilha essas moedinhas comigo!".
Bem, à medida que vou escrevendo acho que me vou confundindo e, analisando a questão deste prisma, talvez não fosse muito boa ideia o Natal ser quando um homem quisesse... Agora que penso nisso, se todos os dias um homem diferente decidisse "Hum, sinto que hoje é um belo dia para ser Natal!" e qual Ramsés II ordenasse "Assim foi dito, assim será feito!", teríamos o espiríto natalício por toda a parte, o ano todo! Partilhas gerais e oferendas a todos aqueles que menos têm, porque a isso nos sentíamos impelidos. Tudo era de todos, ninguém se sobreporia a ninguém com mais posses, tudo equitativamente dividido. Parece-vos familiar? A palavra comunismo não faz clic nessas cabecinhas?! Se calhar sou só eu... mas já estou a ver o Jerónimo de Sousa e a Odete Santos, nas palhas estendidos, a esfregar as mãozinhas de contentamento.
É incrível o que o Natal me faz à cabeça. Uma pessoa começa a dissertar sobre Natal e respectivo espírito e acaba na m**** da política...
Vou ficar por aqui não vá alguém querer passar-me um atestado de insanidade mental ou acusar-me de heresia e fazer queixa às autoridades competentes, correndo o risco de encerramento deste espaço.
Fiquem atentos para futuros devaneios...
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