"Temperamento artístico é uma doença que ataca os amadores"

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Mais uma especialização...

Uma vez que já temos um espaço inteiramente dedicado à literatura porque não criar um dedicado à oitava arte, ou como nós vulgarmente apelidamos, fotografia?
“Há imagens que valem mais que mil palavras”. Foi com esta célebre frase, a ecoar-me no pensamento, que decidi criar este espaço, pois não só através de palavras o ser humano se expressa ao mundo.
Assim este local, vai ter imagens, que procuram espelhar um pouco do que vai na alma dos autores. Pessoalmente penso que as imagens devem ser despromovidas de comentários pessoais do autor, pois cada um deve interpretar e sentir à sua maneira, e não ser guiado por uma explicação do autor, influenciando desta forma o seu modo de viver a imagem. Porque cada um interpreta o mundo de maneira diferente, porque dizer a uma pessoa como o ver? Suponho que seja pelo facto de cada um de nós observar o mundo de maneiras tão diferentes, que somos únicos. Devido a esta maneira de pensar, as fotografias, terão somente um título, para dar um “empurrão” à observação da imagem.
Assim sem mais demoras, concebo este novo espaço, que apelido de “álbum fotográfico”(A.F.).

sábado, fevereiro 17, 2007

Clube Literário - Direitos do leitor

Como primeira intervenção neste novo espaço, achei por bem, antes de citar livros, autores, et cetera, começar por algo mais simples e do interesse de todos os leitores, independentemente dos seus gostos e ideologias. Deixo aqui os direitos imprescindíveis que todas as pessoas enquanto leitores têm, escrito pelo autor francês Daniel Penac, e que penso que todos nós enquanto leitores, concordamos:

1 - O direito de não ler.

2 - O direito de pular páginas.

3 - O direito de não terminar um livro.

4 - O direito de reler.

5 - O direito de ler qualquer coisa.

6 - O direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível).

7 - O direito de ler em qualquer lugar.

8 - O direito de ler uma frase aqui e outra ali.

9 - O direito de ler em voz alta.

10 -O direito de calar.


Para mais informações, ler o diário da republica.

Início de uma nova era

E o pesadelo começa a tomar traços de realidade. A fatídica data, agora abate-se sobre mim como a gélida mão da morte. Tentando ignorar a data, como de um pesadelo, ou uma funesta memória se tratasse, pensando na minha inocência que a altura jamais chegaria, vejo agora estas crenças caídas por terra.
Inevitavelmente o funesto dia chegou.
Tratava-se de um dia nublado, igual a tantos outros típicos desta época. O relógio da pálida clínica assinalava 12h e 47min e pela primeira vez comecei a saborear o verdadeiro sentido da palavra pânico. Lá fora ouvia-se um outrora confortante som do ribombar da chuva no alpendre. Procurei em vão amansar a mente e serenar a alma. O coração cavalgava velozmente dentro do meu peito. Senti as palmas das mãos suadas. Uma cínica personagem de bata profere o meu nome, dizendo que a minha hora tinha chegado. O indomável coração aumenta o seu ritmo frenético. Com uma meia dúzia de passos desajeitados e inseguros, próprios destas situações, chego à “clássica” cadeira do dentista. O peito ameaça rebentar, ao som de uma respiração ofegante. Sobe um olhar penetrante do dentista, timidamente sento-me na cadeira, e vislumbro de relance um tabuleiro repleto de reflexos metálicos que depois de uma visão mais cuidada, transformam-se em silhuetas de diferentes objectos cortantes, trazendo à memoria a imagem de uma carpintaria. A partir desta altura todos os pensamentos se diluem uns nos outros, todas as emoções se fundem, e os nervos tomam-me conta do espírito. Depois de um penoso processo que não me atrevo a descrever, sinto um sabor a sangue a inundar-me a boca. O fluido agridoce precipita-me da boca, escorrendo-me pelo queixo. O coração não mostra sinais de abrandar. Ainda com os olhos cerrados de dor, oiço a voz do dentista em tom paternal, dizendo que tinha perdido o juízo, uma vez que os dentes do siso são sinónimo de juízo, no saber popular.
Ao abrir, uns ate então, escondidos olhos, penso para mim que não só deixei o “juízo” naquela sala, mas também a dignidade, avaliando pelos risos trocistas, que se fizeram acompanhar dos meus desumanos gemidos ao longo da penosa cirurgia, provenientes do dentista e da sua ajudante, e pela face da minha mãe (que fez questão de me acompanhar), escondida por de trás de uma muralha de dedos ainda rindo. E ao reparar na face de diversão da minha progenitora, apercebo-me que devido à sua localização, as ternas festas que senti enquanto me arrancavam impetuosamente dois dentes do siso, pertenciam não à minha mãe mas sim ao dentista.
E então apercebo-me, à medida que o meu corpo se começa a apaziguar, do quão inglório e incompreendido foi o meu tormento.

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Assim sim!

Muito bem! O povo expressou-se e, na minha opinião, bem! Apesar de haver alguns focos de resistência, o país em geral concorda que se deve despenalizar a interrupção voluntária da gravidez até às 10 semanas. Poderíamos dizer que o resultado deste referendo foi uma mostra da evolução cívica e civilizacional que o povo português. Mas então, que dizer da elevada taxa de abstenção? Se por um lado temos portugueses que se preocupam com o estado da nação e, assim sendo, intervêm e promovem as suas ideias, casos muito bons das plataformas do "Sim" e do "Não"; por outro temos ainda um grande número de portugueses que ainda prefere ser governado que nem ovelhas e carneiros, deixando os destinos do país para outros, indo mais tarde marrar com a parede por causa de políticos ou leis, ou suas consequências, que poderiam ser diferentes, caso tivessem levantado o rabiosque do sofá e não deixado os assuntos em mãos alheias.
Bom, mas agora que se poderá abortar, até às 10 semanas, com segurança e cuidados médicos deu-se um grande passo. Mas é preciso também dar outro grande passo, que é o melhoramento do apoio e aconselhamento na adolescência, para que o aborto tenha de ser mesmo o último recurso. É necessário a tal educação sexual, a sério, nas escolas, bem como as políticas de prevenção.
Que se juntem todos, os que são contra o aborto e os que são a favor, e discutam e complementem as ideias das duas facções. Com empenho e profissionalismo, de certeza, conseguiremos um país melhor, civilizado e moderno, um país onde é permitido interromper voluntariamente a gravidez, mas onde a necessidade de a isso recorrer é reduzida, e havendo apoio profissional para quem não opte por essa via, mesmo não tendo boas condições para o fazer.
Utópico? Talvez... mas vale a pena pensar nisso, nada é impossível!

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Despenalizar ou não despenalizar, eis a questão!

A poucos dias da votação no referendo sobre a questão do aborto, no dia 11, gostaria de soltar alguns pensamentos que há muito já deviam ter saído.
Antes de mais gostaria de lembrar que a votação é sobre a despenalização do aborto, e não sobre se são ou não a favor do aborto, são questões diferentes e independentes. Com todo o direito, podemos ser ou não contra o aborto, mas isso não implica que aprovemos a penalização de uma mulher que a isso se vê forçada. Ouvi, na rádio, há tempos, uma médica dizer claramente que iria votar sim no referendo, por ser a favor da despenalização da mulher, mas ser contra o aborto. Algumas pessoas poderão pensar que são questões indissociávieis e que a sôtora estaria a ser incoerente, mas faz todo o sentido a sua atitude. A todos que são contra o aborto, pensem muito bem se acham ou não que as mulheres devem ser julgadas da maneira que a lei prevê. É que se se está a matar uma vida humana, então que as mulheres sejam julgadas não por cometerem um aborto, mas sim por cometerem um homícidio qualificado e premeditado. Vai ser tudo melhor...
Do último referendo para este, notaram-se significantes melhoras, com uma maior intervenção de cientistas e técnicos de saúde, preocupados em explicar melhor ao povinho as questões por trás de um aborto, é louvável. Mas nota-se, também, do último referendo para este, uma intensa politização de um assunto que pertence ao campo da saúde pública, com as habituais figuras do panorama político nacional a proferir as suas correctas e, por vezes, bárbaras opiniões, é deplorável.
Todos sabemos que a maioria da direita irá votar "Não" e que a maioria da esquerda irá votar "Sim", mas não podemos associar o resultado do referendo a vitórias políticas. A não aprovação da despenalização não pode significar uma vitória do CDS-PP ou pior, ser considerada uma derrota do PCP ou BE, como acha Jerónimo de Sousa. E o contrário também se verifica. É ridículo ver políticos como Marques Mendes, em visitas a casas de apoio a jovens mães a fazer campanha, quando nas últimas eleições nem deveria saber da sua existência, dizendo que há estruturas para o acompanhamento das mães que não puderam ou não quiseram fazer um aborto.
A votação no dia 11 assenta, essencialmente, no direito à escolha da mulher e na possibilidade de se fazer um aborto, poder fazê-lo em segurança e com garantias. Abstenham-se de politiquices e votem conscientemente. Tirem da cabeça a ideia de que se vai banalizar o aborto, que não vai deixar de ser penoso e traumatizante apenas porque é legal, que não será nunca feito de forma leviana e irreflectida apenas porque é legal.
O aborto nunca deixará de existir, portanto votar "Sim" no próximo domingo e contribuir para a mudança da lei é assegurar melhorias no serviço de saúde pública, é assegurar que quem interromper voluntariamente a sua gravidez poderá fazê-lo sem risco de vida.
Eu sou a favor da despenalização da mulher e sou a favor do aborto. Um feto pode ser vida mas não é uma pessoa. E mais vale uma pessoa sã e capaz no mundo, do que duas pessoas em dificuldades atrapalhando-se uma à outra.

Clube Literário - O Livro do Século

Mais uma vez venho aqui deixar uma sugestão de leitura, justificando assim a existência deste mui nobre clube.
Trata-se da obra que foi considerada o livro do século - Ulisses, de James Joyce.
Ao contrário do que o título indica, e apesar de estruturado pela obra de Homero, a Odisseia, a acção não se passa na antiguidade clássica, mas sim num único dia em Dublin e gira em torno de três personagens, compostas em semelhança com as personagens principais de Odisseia. Assim, temos Leopold Bloom (Odisseu - para quem não sabe, Ulisses é o seu equivalente latino), Molly Bloom (Penélope) e Deadalus (Telémaco).
É tido como extremamente realista e pormenorizado e foi censurado em vários países, devido à sua moral questionável e de ser um atentado aos bons costumes. No entanto, é exemplarmente bem escrito e tem a capacidade de cativar o mais desatento dos leitores. Será, certamente, uma boa escolha para a vossa próxima leitura.

Para que não chovam opinanços e reinvindicações de que este ou aquele é melhor, informo desde já que apenas me limito a publicar as notícias. A escolha do "melhor" é sempre subjectiva e como tal pode mesmo nem reflectir a minha opinião, mas creio ser importante não deixar de publicar as escolhas de quem poderá perceber algo mais que nós.